Cientistas contestam protocolo para receberem (poucos) dados sobre doentes com Covid-19

Os requisitos são tantos que Nuno Sousa teme que quando os dados cheguem às mãos dos cientistas seja tarde
Pixabay
Depois de cerca de um mês a pedir dados, DGS disponibilizou formulário que não satisfaz quem quer investigar a Covid-19 em Portugal para ajudar no combate.
Dois dos primeiros subscritores da petição e de uma carta aberta que levaram o Governo a decretar a entrega aos cientistas de dados anonimizados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, sobre os doentes com Covid-19, lamentam a forma e o tipo de dados que a Direção-Geral da Saúde (DGS) lhes quer disponibilizar.
O presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Nuno Sousa, diz à TSF que o anúncio desta disponibilização dos dados, na passada sexta-feira, pela Ministra da Saúde, Marta Temido, foi um passo positivo depois de um mês de apelo da comunidade científica.
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Os problemas são, contudo, de dois tipos. Primeiro, uma barreira burocrática que não estava no primeiro formulário de pedido de dados publicado na sexta-feira, mas que entretanto foi acrescentada pela DGS: um "protocolo de estudo".
Nuno Sousa defende que este passo é desnecessário e sobretudo difícil de responder pois ainda não se sabe ao certo os dados que serão enviados, sendo que a agravar o cenário a descrição feita pela DGS dos dados disponíveis indica que estes não serão muito relevantes.
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"Por aquilo que o site da DGS antecipa não parecem dados de grande interesse para serem trabalhados, mas tenho esperar para os receber e ter a certeza do que estou a dizer", refere Nuno Sousa.
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Os requisitos agora pedidos pela DGS são tantos que Nuno Sousa teme que quando os dados cheguem às mãos dos cientistas sejam poucos e ainda por cima que cheguem tarde sem dar tempo para uma análise que deveria ajudar as autoridades no combate à Covid-19.
Carlos Oliveira, conselheiro do Conselho Europeu para a Inovação e antigo Secretário de Estado do Empreendeedorismo, Competitividade e Inovação, tem os mesmos receios.
"Depois de quatro semanas de pedidos o passo que é dado é muito pequenininho pois o conjunto de dados que está a ser disponibilizado fica muito aquém daquilo que os investigadores tinham pedido há quatro semanas", detalha.
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Carlos Oliveira diz que ainda não receberam os dados, mas a lista de dados que irão ser enviados, disponível no site da DGS quando os investigadores preenchem o formulário, é muito curta.
Faltam, por exemplo, registos das consultas nas urgências e cuidados de saúde primários, mas também a medicação dos doentes nos últimos meses, as chamadas para a linha SNS 24 ou para a linha de apoio ao médico.